terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mulheres e Arquitetura


Mulheres e Arquitetura
Frank Svensson*

(Trabalho apresentado no XXVIII encontro nacional de estudantes de arquitetura e urbanismo – Brasília, 11 a 18 de julho de 2004).

Prof. Dr. Frank Algot Eugen Svensson
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade de Brasília
A questão da equiparação das mulheres aos homens está presente com freqüência, nos jornais, nas reuniões de trabalho e nas assembléias políticas do nosso tempo. Muitas mulheres se tornaram conscientes de como a sociedade as condiciona e lhes limita a vida. Apesar da compreensão que alguns homens apresentam pelo problema, pode-se constatar que a sociedade continua a impor padrões de discriminação social. Ainda é diminuta a representação feminina no Congresso Nacional, bem como nas Câmaras Estaduais e Municipais. No campo da formação de profissionais para a arquitetura aumentou, no entanto, consideravelmente o número de arquitetas, mas é de se perguntar se aumentou o interesse para com os problemas da mulher em relação à arquitetura. Principalmente no que concerne a melhores condições de vida e trabalho, ou seja, a um melhor uso do tempo.

Uma sociedade dos homens e outra das mulheres?
Em muito a nossa sociedade parece ser dividida em uma dos homens e outra das mulheres. As relações empregatícias são diferentes, as visões de mundo são diferentes, e a quantidade de trabalho é maior para as mulheres. Já se sabe que quando consegue ser assalariada, tem que dar conta, além do trabalho profissional, também do trabalho doméstico. Quando consegue obter um emprego geralmente ainda o faz em profissões distintas das dos homens. Basta observar o nosso próprio lugar de trabalho, a UnB. A maioria do pessoal burocrático e a maioria das turmas de limpeza são mulheres. Já a esmagadora maioria dos chefes, é de homens. Logicamente isso implica em experiências de vida distintas.

O trabalho doméstico desperta pouco interesse como objeto de arquitetura
Somos de opinião que a posição dada à mulher na nossa sociedade, pode ser lida, também, na arquitetura do edifício e da cidade. Uma área de manifestação imediata da não equiparação diz respeito ao trabalho doméstico. Uma desigualdade que se manifesta de formas distintas, conforme o nível econômico da família, mas que persiste em todos eles. Concordamos com Samora Machel, o qual, numa publicação do FRELIMO sobre o problema da equiparação, fez ver que o mesmo não se resolve simplesmente por uma atitude de ela lava e eu enxugo. Mas como é então que deve ser encarado? E por que é que as trabalhadoras da arquitetura não movem uma luta mais intensa no sentido de tal esclarecimento? Por que não se dedicam mais à pesquisa habitacional? Por poderem, como membros da alta classe média, dispor de serviçais e, assim, propiciar a exploração da mulher pela mulher dentro do próprio lar?
A Sociedade, em seu desenvolvimento capitalista, dissolveu a transmissão natural, de adultos para crianças, do conhecimento quanto ao trabalho.  Já em tenra idade elas eram julgadas aptas a participar nos afazeres dos pais. Em tais condições não se podia falar, propriamente, de infância como essa é entendida hoje. A criança era prontamente incorporada ao mundo dos adultos, absorvendo os seus valores e aptidões. Isso tinha a vantagem de assegurar um sentimento de participação e de continuidade da vida em família. 
Para o modo de vida que a chamada classe média hoje leva, já não é assim. Só como adolescentes, as crianças passam a ter contato com a produção. Vivem cedo a divisão social do trabalho e perdem a visão de conjunto do processo produtivo, bem como de sua reprodução. Reflete-se à escala da família, o fato da experiência do local de trabalho ser encaminhado para o pensar de engenheiros e similares. A tendência em especializar e em setorizar, no intuito de tornar o trabalho mais rentável, separou a casa da oficina, o trabalho produtivo da vida doméstica e do lazer. Surgiram dois mundos: o mundo visível dos homens e o mundo privado e não percebido das mulheres.
O trabalho produtivo passou a ser assalariado, e como deve ser lucrativo passou a ser organizado de forma a se tornar o mais eficiente possível. Mas aquele trabalho necessário à reprodução da força de trabalho, a criar uma nova geração que assegure as relações sociais estabelecidas, foi liberado da produção propriamente dita. Desenvolve-se, hoje, no recôndito dos lares. Tornou-se privado e não assalariado, e como não se exige que seja assalariado também não se exige que seja organizado de forma efetiva. Simplesmente não é contado como trabalho e, assim, pouco conta para os teóricos e para os práticos da arquitetura. 
Tradicionalmente o trabalho doméstico pode ser visto como de duas dimensões. Uma que implica em esforço físico: cozinhar, lavar roupa e louça e manter a própria casa limpa. Um trabalho monótono, desligado do contexto e sem fim. A outra dimensão é de caráter social, em se tratando das mesmas pessoas que se cuidam, se consolam e convivem entre si. Algo difícil de programar com mais rigor, não permitindo limites mais nítidos entre tempo de trabalho e tempo de lazer. Já o trabalho do homem seria estritamente programado. Depois das oito horas de trabalho, pode voltar para casa e iniciar o seu tempo livre a ler jornal do sofá ou a assistir televisão. Como depende de outros, o tempo da mulher depende da disponibilidade dos outros. Além disso, não dá para saber antecipada-mente quando será necessário atender às crianças. Ou quando algo vai ficar sujo. O trabalho do homem é palpável e visível. Mas quem é que pode ver o apoio e o consolo dado pela mulher? Só ao nos tornarmos conscientes da monotonia, da repetição, da solidão e da exploração contida no trabalho doméstico, é que começamos a duvidar das imagens idealizadas do mesmo.
Estamos todos de acordo com o fato de que melhorar as condições de produção é indispensável ao desenvolvimento da sociedade. Mas indispensável, também, é resolver melhor as atividades de reprodução da produção. Algo que diz respeito a todos e não somente às mulheres. Da forma como as coisas são aceitas hoje, como um setor reprodutivo oculto dentro dos limites da moradia, enquanto o setor produtivo se desenvolve lá fora de casa, o caráter privado da vida em família é exposto a enormes tensões. Por um lado tem que enfrentar a crescente especialização, automação e anonimato da divisão social do trabalho, bem como o avanço tecnológico da sociedade e, por outro lado, tem que garantir o próprio desenvolvimento humano da sociedade. Como resolver isso quando da configura-ção dos locais da vida e do trabalho?
O trabalho da mulher na casa, cozinhando e cuidando de filhos, motivou locais de diferentes tipos, conforme a região, ou melhor conforme o tipo de economia da região. Em Minas Gerais a cozinha grande era o principal compartimento da casa. Já no Nordeste era na grande varanda posterior onde se dava o trabalho doméstico. Nas casas senhoriais dos donos de terra e da burguesia compradora, era nítida a diferença entre os lugares dos homens e os lugares das mulheres. Os lugares dos homens davam para a rua ou para a varanda anterior, e eram dotados de janelas. Os das mulheres davam para o quintal ou para o pátio e muitas vezes nem davam para o lado de fora. Isso para não falar no lugar da(s) criada(s) que até hoje são projetados na escala 1:200 junto à entrada de serviço, ou no fundo do quintal.
Com a adoção do funcionalismo passamos a querer um lugar para cada função. Dentro de casa: dormir ═ dormitório; estar juntos ═ estar; assear-se ═ banheiro; cozinhar ═ cozinha etc. Já os espaços entre os nossos prédios tiveram, na maioria dos casos, os seus lugares reduzidos a três funções: bancos para os velhos, caixas de areia para as crianças e pátios e ruas pavimentadas para os carros. Essa reduzida especialização que exclui a vida dos adultos em comum, elimina a possibilidade de formação e desenvolvimento de uma cultura socializada. 
A socialização do trabalho inerente à reprodução das forças produtivas constitui um campo de luta, ensino e pesquisa, no qual as arquitetas mulheres têm uma enorme res-ponsabilidade. Não podemos negar que satisfazer as necessidades das mulheres, quanto      à arquitetura e ao planejamento, também é bom para os homens. Mas soluções que impliquem mudança de comportamento das mulheres implicam, também, mudança de com-portamento dos homens. Teremos que dedicar mais tempo ao trabalho doméstico. E que-remos isso?
Não basta entender o mundo para poder mudá-lo. Mas para transformá-lo é necessário entendê-lo e agir em função de tal entendimento. Exigir melhores soluções para o trabalho doméstico está ligado ao processo de conscientização quanto ao mesmo. Como o trabalho feminino doméstico prima por ser invisível, por não ser percebido pela visão oficial da sociedade por não ser definido com a mesma linguagem com que os políticos definem o mundo, muitas mulheres, também não vêem os seus próprios problemas como seus. Para tornar seu mundo visível é indispensável que as próprias mulheres analisem melhor as suas próprias experiências e formulem os seus próprios problemas, inclusive em termos de arquitetura e urbanismo.
Tão importante como conhecer melhor a problemática do trabalho da habitação é também conhecer os problemas da melhor habitabilidade dos locais do trabalho produtivo. Da mesma forma é importante conhecer as implicações das relações entre os locais da habitação e os locais do trabalho produtivo e os problemas específicos que apresentam para as mulheres. Ou elas não são, porventura, expostas a problemas maiores que os homens no que diz respeito a transportes urbanos? Se os transportes coletivos não são bons, passa a haver necessidade de dois automóveis numa mesma família. E para tanto é necessário dinheiro. Ou então serviçais, e com eles contradições de classe. E para a imensa maioria das famílias que não podem ter um único carro?
È tempo de uma maior contribuição das mulheres à pesquisa de uma melhor habitabilidade de todo o contexto urbano.                    
                 
* Professor titular (aposentado) da FAU-UnB, membro do CDES da Presidência da República. 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

PCB apoia a Chapa 88 para a reitoria da UnB


Os professores, técnicos e estudantes comunistas da Universidade de Brasília,
representados pela Base Heron de Alencar do PCB na UnB
apoiam de forma militante a chapa 88 para a reitoria da nossa Universidade.

Base Heron de Alencar
Partido Comunista Brasileiro - PCB